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Gente que Pedala #6 - Aldo Cesar - Parte 1


O depoimento desta semana é do biker Aldo Cesar. Uma história de vida emocionante e que pedalar fez grande diferença para ele, inclusive ajudando-o em sua luta contra uma doença que foi quase fatal.

O Aldo Cesar é mais um vencedor que vem compartilhar sua história de vida conosco.

Espero que curtam esta história Show de Bike que será contada em duas partes.

CicloAbraços, Biker 

Meu depoimento sobre minha vida de ciclista, de apaixonado por um pedal e por uma bike que me completa, poderia se resumir numa destas palavras: PAIXÃO, TARA, AMIZADE, TERNURA, RESPEITO, ADMIRAÇÃO OU DEPENDÊNCIA, ou até mesmo AMOR, não fosse prioridades como família, trabalho e amigos.

Porém, se pensarmos como todos estes itens estão integrados, como um complementa o outro, nem uma palavra mais será necessária dizer, resumindo numa pequena frase: FÚRIA DE VIVER.

Vou escrever meu testemunho, em ordem cronológica, iniciando uma breve retrospectiva de minha infância, adolescência e juventude.

1966 – Com seis ou sete anos ganho um triciclo, todo de ferro e de cor vermelha, aquele de criança mesmo, que se podia carregar outros em pé, atrás, segurando no ombros do piloto.

1970 - Aos 10 anos, quando chegamos aqui, São José, oriundos de Criciúma, com dificuldades financeiras, brincava com o que tinha na imaginação, mas nada de bicicleta.

1972 - Trabalhando na limpeza de terrenos de vizinhos, com uma inchada, um ancinho e um balaio nas costas, comprei minha primeira bike de verdade, com meu próprio suor.

Aquela bicicleta passou a ser minha fonte de renda também, mas o espirito aventureiro sobre duas rodas se afloraram violentamente, a ponto de meus pais não saberem mais onde eu estaria. Claro que eu não havia declarado guerra aos estudos, pois eu era muito aplicado, com notas invejáveis. Tanto que meus pais sempre me deram toda liberdade de ser e ter o que quisesse, sem preocupação de meus estudos serem prejudicados. Montava e desmontava minha bike de cabo a rabo de olhos vendados sem errar uma peça. Claro que não era freio a disco, sem mais que uma marcha e pesada. Mas era meu tesouro e nenhuma namorada competia com ela.

1974 - Minha saúde se declinou de forma espantosa. Passei a ter febre diárias e aparentemente sem motivos, anemia, dores no peito, fraqueza geral e até meu joelho esquerdo pifou , me forçando a andar com a perna meio dobrada e abandonar os longos pedais que fazia com amigos da escola e da vizinhança. Antônio Carlos e Três Riachos era nosso paraíso.

Diagnóstico médico: Febre reumática

A febre reumática (FR) é uma sequela de infecção na garganta que não foi devidamente tratada e causada pela bactéria Streptococcus do Grupo A. É uma doença sistêmica que pode afetar o coração, o cérebro, as juntas e a pele. Na maioria dos casos, nota-se dor nas articulações e o maior risco é a lesão das válvulas do coração. A febre reumática pode ocorrer em qualquer idade, mas as principais vítimas são crianças acima de 5 anos e adolescentes.

Internado por 45 dias, emergencialmente, pois a doença havia afetado meu coração, com uma mancha enorme nele. Não sei quantas BENZETACIL 1.200.000 foram aplicadas, mas sei que já não havia mais local em que não sentisse dor pelo efeito que ela provocava. Cogitava-se, entre o corpo médico responsável pelo meu caso de ter que fazer uma cirurgia em São Paulo, pelo Dr. Euryclides de Jesus Zerbini, primeiro no Brasil e quinto no mundo a fazer transplante de coração. A coisa era feia mesmo.

Agradeço eternamente a dedicação aos já falecidos Dr. Maurílio Lopes Silva (cardiologista) e Raul Cherem (reumatologista) de Florianópolis, tudo pelo INSS.

Fiquei internado mais 15 dias e finalmente foi descartada a cirurgia, porém o tratamento seria longo e delicado. Inchei muito devido aos remédios e voltei depois de um ano, aos estudos. Mas não podia fazer o mínimo de esforço físico. Não participava de nada que exigisse tal.

E nada de bike. Oh dor!

1978 – Meu primeiro emprego fixo na Ceasa de São José.

1979 – Alistamento Militar.

Segundo o Dr. Tenente Maciel, que fazia a triagem, nada foi diagnosticado de errado para que eu fosse dispensado do Serviço Militar, apesar de meus protestos quanto a minha aptidão física. Ele me instruiu a ir ao meu médico responsável, sempre Dr. Maurílio Lopes Silva, pedir um atestado especial para este fim.

Dr. Maurílio Lopes Silva me informa que não poderia faze-lo, pois eu estava curado. Apenas deveria tomar por mais um ano as benditas injeções de Bezentacil, trimestralmente.

Legal, não?

Não. Maravilhoso. Estupenda notícia! Ninguém e nada poderia me tirar mais lágrimas de meus olhos, por pior que fosse ou fizesse a mim, depois daquele momento. Me senti forte novamente, depois de anos, andando com cuidado pra não ofender meu coração.

Agora eu poderia servir a minha Pátria. Eu finalmente era alguém. Não mais um inválido doente.

Resultado: Honra ao Mérito com convite a curso de Sargento PQD no Rio de Janeiro e outros mais. Fui exemplar. Não era pra menos.

Mas...

O que tem o ciclismo com isso?

Tudo.

Depois o médico falou aos meus pais que a minha cura teve muito a ver com a prática de pedalar grandes distâncias. Meu coração, apesar de doente, era forte. Um punhado de músculos bem estruturado que reagiu galhardamente a doença.

1980 – Volta ao emprego, em aberto, para licença ao Serviço Militar.

Ao sair do Exército, não comprei outra. Casei, tivemos duas maravilhosas filhas e o resto era só trabalho. Trabalhava no Ceasa a noite e de dia tinha que descansar. Meu amigos já se distanciaram devido ao tempo e idade. Passei a caminhar e correr. Não virei atleta, mas fazia isso bem. Fui de muda para Palhoça com a esposa e as filhas pequenas, comprei uma bicicleta usada, mas usava apenas por necessidade. Desandei por caminhos nada saudáveis por lá, e voltei a Barreiros, onde me criei desde os dez anos. Me fixei aqui.

Depois descobri as maravilhas de fazer trilhas e conheci umas 30 delas na nossa linda Floripa. Fiz volta a Ilha de Florianópolis duas vezes, lideradas por mim, cada uma em sete dias com uma mochila nas costas. Morro do Cambirela e Pedra Branca conhecia o trajeto até de costas. Fui peregrino, grupo (Peregrinos na Fé) também formado por mim pela Igreja Católica. Extinto hoje. Levei multidões em peregrinações religiosas. Tudo isso era legal, mas faltava algo. Havia um vazio em mim que não conseguia identificar a origem.

Mudei de emprego, saindo do Ceasa para ingressar na Epagri do Itacorubi há 30 anos.

2010 - Finalmente, é aí que entra o ciclismo.

Tanto caminhei e trilhei por estradas de todo tipo de terreno, que adquiri um probleminha no meu pé esquerdo.


Ossos sesamóides
Sesamoidite. A Sesamoidite apresenta-se como dor localizada sob os ossos sesamóides. Ossos sesamóides são dois pequenos ossos que se localizam embaixo da cabeça do I metatarso. Apresentam o formato de um grão de feijão e atuam como braço de alavanca do tendão flexor do halux (do dedão) e participam do desprendimento do pé na passada.

Inflamam-se especialmente em indivíduos que praticam atividades com traumatismos constantes na parte anterior do pé, como balé, basquete, saltadores, vôlei, peteca e corridas. Normalmente a dor é bem localizada sob os ossos sesamóides e pode ser simplesmente uma inflamação do tendão flexor, que passa contiguamente aos ossos ou mesmo evoluir com necrose (alteração vascular) e até mesmo fratura destes ossos.

O que fazer agora? Eu amava andar nas matas, escalar montanhas como o Cambirela e Pedra Branca e isso estava ficando insuportável de conseguir.

Fui ao médico e ele aconselhou um esporte alternativo, sem uso excessivo dos pés, sem impactos.

Abandonei tudo e fiquei na inércia por breve período. Engordei violentamente, além de caminhar agora para outras veredas nada saudáveis novamente, como álcool e ingestão de alimentos de modo irracional. Cheguei a pesar 103 kg.


Certo dia, passando em frente a uma oficina de bicicletas na rua José Victor da Rosa, em Barreiros, aquela que entra da BR-101 pelo Ceasa e vai até a Leoberto leal, deparei com o dono do estabelecimento, que era e é ainda ninguém mais que o Valmor, vulgo Maninho, um daqueles amigos de infância, que percorríamos pelas estradas de Antônio Carlos e Três Riachos em busca de vergamotas e laranjas açúcar sem dono nas beiras de estradas.


Pedalando com amigos
Contei o caso a ele e acabei comprando, depois de muita insistência, uma bike, sem data e marca específica de fabricação. Gostei muito dela. Era forte, valente. Muito básica, mas era o começo de tudo. Comecei a pedalar sozinho, depois com um ou dois amigos e certo dia, encontrei na rede, um grupo chamado Pedal Continente. Vi seus roteiros noturnos semanais e me candidatei. Já estava com certo preparo físico, mas faltava mais e também técnica. Senti como um patinho feio no meio de tantas bikes com amortecedor, roupas especiais, luvas, capacete, lanternas, etc, etc...

Disfarcei, virei as costas e timidamente fui embora de fininho. Não me dei conta de que eu estava totalmente fora dos padrões e exigências para uma pedalada, principalmente noturna.

Como ninguém me conhecia pessoalmente, passei batido e voltei no outro dia pra comprar a vestimenta exigida a um ciclista de verdade. Então, na segunda vez enfrentei a minha condição de principiante e me apresentei ao João Paulo, mas devido ao momento de agitação e ansiedade do grupo em partir par mais um pedal noturno, pouco falamos.


Pangaré Verde
Eu já sentia a minha magrela, apelidada de PANGARÉ VERDE, como parte de mim e depois de outro pedal, pelo Morro ou trilha do Pagará, na Palhoça, ouvi um desafio: esta magrela não vai aguentar esta...vai quebrar.

Minhas pernas ainda precisavam de mais treino, mas minha magrela, não. Ela sim estava preparada. E assim foi. Passamos por todo aquilo, à noite, em estreia e desbancamos o desmalicioso comentário.

Só porque ela não tinha amortecedor? 18 marchas? Pensei eu, me ofendendo por ela (rsss).

Eu sabia o que tinha sob meu traseiro. Ela aguentou muito mais depois, por trajetos temidos até pelos mais experientes. Somente eu e ela. Ela vai ficar na minha memória por muito tempo. Devo muito a ela, senão tudo, já que foi a primeira a ter meu verdadeiro respeito.


Clique aqui para ler a parte final deste excelente depoimento do biker Aldo Cesar.

3 comentários

  1. Meu amigo Audálio, ficou uma obra de arte. Não me refiro ao meu testemunho em si, mas a atenção com as fotos especiais adicionada. Grato por isso e espero que seu trabalho incentive, promova, induza e motive muita gente que, desde preguiça até por um pequeno problema, deixam de viver a vida intensamente. Grato mais uma vez. Muito bom.
    A gente se vê por aí. Aceite qualquer dia um de meus convetes loucos de pedais de fins de semana.
    Meus sinceros respeitos. Vc é do bem e merece todos elogios.
    Ps. "O Dr segundo Tenente Maciel"
    Se puder sem causar complicação, mudar este trecho para: Segundo o Dr Tenente Maciel

    Abraço bikeano

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    Respostas
    1. Eu é q agradeço por este ótimo depoimento, muito incentivador! A correção já foi feita. Se tiver alguma outra é só avisar.
      E tenho a maior vontade de pedalar com vcs... O mais complicado é ter q pedalar quase 40 km para chegar ao ponto de encontro de saída (cerca de 1hr e 30min) e depois retornar após o pedal :)
      Assim q o preparo estiver um pouco melhor eu vou! :)

      CicloAbraços!

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  2. Vou contar como conheci o Aldo historia de pedal, eu e meu cunhado saímos para fazer um pedal e la na Potecas estava o Aldo com o pneu da bike furado, então peguei a pneu dele e levei numa borracharia para encher pois não sabíamos que o bico da bomba virava! então depois do pneu arrumado convidamos ele para subir o pedra branca e ele mesmo com sapatilha topou e subiu o pedra branca, na descida ele caiu quebrou sua maquina fotográfica e encheu os pés de calo pois a subida era muito ruim e ele teve que caminhar a subida empurrando a bike, Aldo não é um parceiro de pedal e sim um amigo para vida toda, valeu Aldo.

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