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Gente que Pedala #32 - Mario Sergio Fregolão - Início


Conheci o biker Mario Sergio Fregolão, mais conhecido apenas por Fregolão em uma manifestação ciclística pela preservação da vida dos ciclistas, após um ter falecido, numa instalação de uma Ghost Bike.

Pude perceber que ele é uma pessoa muito prestativa, amiga, comunicativa e que "põe a mão na massa"! Lendo o depoimento dele, compreendi o porquê dele ser assim, além de conhecer um pouco de suas muitas aventuras vividas!

Saiba mais sobre esta aventureira história ciclística Show de Bike publicada na coluna Gente que Pedala.

CicloAbraços, Biker


Morro da Igreja em janeiro de 2013
MINHA VIDA SOBRE PEDAIS

Fui criado em um sítio funcional da Igreja Católica que ficava ao lado de um seminário (onde meu pai era uma espécie de faz-de-tudo) em Palotina, uma pequena cidade do extremo oeste paranaense. Este detalhe foi fundamental no desenvolvimento das minhas atividades ciclísticas, pois havia muito espaço para eu, meus irmãos e muitos amigos brincarmos à vontade, com quadras de esportes, campos de futebol, pomares, hortas, bosques, pastos e um grande graneleiro que era usado para secar e estocar a produção agrícola das várias fazendas de monocultura que esta instituição mantinha na região.


No pátio deste graneleiro, aprendi a pedalar por volta dos seis, sete anos de idade, e isso era praticamente uma questão de honra entre as crianças das vizinhanças, ainda mais, porque normalmente não tínhamos bicicletas, normalmente precisávamos fazer amizade com pessoas que tinham e levá-las para passear lá em casa. No final das contas, aprendi a pedalar mesmo foi numa enorme barra circular que meu pai conseguiu na troca de algum serviço extra que ele deixava em casa nos dias em que ia vistoriar as fazendas com a toyota do seminário e estes dias eram uma festa para mim... e com as pernas miúdas e muito finas, atravessava o círculo no centro do quadro, o que reduzia muito a mobilidade e ainda me viciava a dominar o equilíbrio só de um lado do corpo, a bicicleta tinha a relação simples muito pesada e o freio contra pedal, mas na no ânsia de aprender fiz vários experimentos, eu e meu irmão mais velho, o Mauro guiávamos a bicicleta em dois, cada um com os dois pés sobre um pedal e compartilhando o guidão. Quando um corpo subia, o outro descia e isso nos adestrava muito no comando da velha barra circular.



Barra Circular antiga
Logo logo eu estava enfiado em todas as malocas da região, e a bicicleta era uma das nossas grandes diversões, quando chovia, descíamos uma rua do loteamento Dallas até o rio Santa Fé, era muito louco, pois a brincadeira consistia numa espécie de concurso em que ganhava a bicicleta que descesse a ladeira no barro da estrada nova em maior número de pessoas, deste modo, íamos em até dez crianças em cima de uma bicicleta pega escondida de algum de nossos pais. Ia gente no guidão, uns três ou quatro no top tube, um em cada pedal, mais quantos pudessem acomodar no selim e no bagageiro. Em pouco tempo, destruíamos praticamente qualquer bike, e aí para evitar apanhar em casa, já começávamos a meter a mão na massa, fazendo todo tipo de reparo e de gambiarra para solucionar os mais diversos estragos que fazíamos.

Tombos, arranhões, hematomas e machucados até mesmo mais sérios eram muito comuns, mas não reduzia em nada a magia que era brincar de bicicleta.

Lembro-me que por volta dos oito anos, sob a influência de um vizinho muito empolgado, usamos o espaço entre as setenta grevíleas para fazer uma pista com muitas rampas, algo parecido como bicicross ou bmx, mas fazíamos com as mais variadas bicicletas, porque esta pista caseira atraía também a molecada amiga de praticamente toda a cidade, e lá nos jogávamos com barras fortes, barra circulares, monaretas, berlinetas, cecis, bmx's, bicicletas monster, bicicletas quebradas, estragadas e enferrujadas de todos os estilos. Foi quando começaram a surgir as caloi cross, nosso sonho de consumo. 

Em meados de 1989, entramos em contato com a prefeitura e fizemos uma pista de bicicross em um terreno baldio da cidade, onde meus amigos Joclito Biffi e Edson Moraes promoveram um campeonato local, mas com o tempo, a brincadeira das crianças cedeu o espaço e a mão de obra pra os playboys praticarem motociclismo, o que acabou com a pista.

Um pouco antes de completar onze anos meu pai morreu e minha mãe, que era professora e estava desempregada, não tinha como bancar nossa vida, mas o seminário foi legal permitindo que continuássemos morando lá por mais alguns anos. Mas me lancei na vida profissional nesta mesma idade, já na quinta série passei estudar à noite e trabalhei por um tempo de vendedor de pastéis da vizinha, depois por uns quinze dias arrisquei ser metalúrgico, e aí surgiu um projeto na cidade chamado guarda mirim, que tinha por objetivo colocar a rapaziada pobre e desorientada no mercado de trabalho, como aprendizes ou auxiliares com salários muito baixos e fui eu e meus dois irmãos mais velhos trabalhar de office boys neste projeto. Deste modo fui office boy do Banco Itaú, entregador de jornais e por fim me estabilizei no antigo emprego do Mauro, como boy de um pequeno escritório de advocacia e imobiliária, onde trabalhei até quase os dezoito anos, correndo todos os dias, a cidade toda para entregar notificações jurídicas, cobranças, fazer compras domésticas para a mulher do patrão, para a secretária...

Durante este período meu rendimento era de meio salário mínimo e praticamente passava fome pelo ganho, mas a grande vantagem é que tinha um bicicleta o dia inteiro só para mim. Na verdade só não passava fome porque durante os dias de semana eu ia almoçar no CEMIC, uma espécie de orfanato que disponibilizava almoço grátis para a guarda mirim. Ao lado do CEMIC estavam construindo um estádio de futebol que foi embargado ainda na terraplanagem, e ficou um buraco enorme no local onde, a galera da bike almoça rapidinho e se jogava buraco à baixo numa rampa que chegava à noventa graus em relação ao solo, descíamos na toda e depois pegávamos bastante embalo para subirmos de novo. O pior é que fazíamos isso com as bicicletas funcionais, lembro-me de ter batido uma vez que descia numa cargueira e encontrei uma barra forte subindo, foi hospital na certa.

Às vezes, nos finais de semana, pegava esta bicicleta do trabalho escondido e dava uns rolês tipo cicloturismo, ia para as cidades vizinhas à vinte ou trinta quilômetros de casa. Maripá e Francisco Alves eram meus destinos prediletos, por terem o trecho mais plano e porque tinham recompensas que eu achava muito interessantes. Em Maripá havia uma piscina pública com água de fontes naturais e em Francisco Alves a topografia mudava totalmente e a argila que constitui o solo palotinense se transformava em areia branca, acho que por conta da influência do acúmulo de depósitos dos grandes rios do pantanal matogrossense que desembocava no Rio Paraná, ou seja, mudava totalmente a característica do pedalar.


Caloi Cruiser vermelha
Lá pelos meus catorze ou quinze anos, lembro que eu e meus irmãos mais velhos, o Marcos e o Mauro fizemos uma vaquinha e compramos uma Caloi Cruiser vermelha, em não sei quantas parcelas numa loja HM, e era uma disputa saber de quem era a vez de ficar com a bike, mas em pouco tempo quebramos o quadro dela e um vizinho de nome Linel propôs um rolo da cruiser que era quase nova e quebrada, acho que por uma barra circular e uma monareta, ambas muito velhas, mas em bom estado...

Aos 18 anos comprei a primeira bicicleta que pude dizer: minha! Uma Caloi 10 muito acabada, mas fui mexendo nela e melhorando, em pouco tempo descobri que esta bike rendia muito mais no asfalto e aí comecei a puxar uns pedais  mais para Toledo, Terra Roxa e Assis Chateaubriand por terem todo o percurso em asfalto, logo asfaltaram para Francisco Alves e Iporã também, ou seja, meus destinos chegavam à distâncias de 40 ou até 60 km... 

Passei a trabalhar a noite como chapeiro e em um quiosque e usava minhas manhãs para pedalar e as tardes para ir na escola. Em pouco tempo tinha duas Caloi 10, ambas com o quadro recortado para diminuir a distância entre eixos e potencializar o efeito de rolagem em inércia, o que se acreditava na época tornar a bicicleta mais veloz. Por mazelas do subemprego, tive que vender ambas para pagar contas e consegui me estabilizar com uma Mountain bike Monark que usei até detonar totalmente...

Clique aqui para ler a continuação deste ótimo depoimento ciclístico

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