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Gente que Pedala #6 - Aldo Cesar - Parte Final

Parte final do excelente depoimento do biker Aldo Cesar. Se quiser ler a parte inicial, clique aqui.


Nesta época já percorria os quase 17 Km que separam meu lar do meu trabalho, percorrendo diariamente 34 km de segunda a sexta. Dos 92 kg que pesava, em nove meses tinha emagrecido para os 80,5Kg, Um kg por mês, sem fechar a boca.

Mesmo assim, desejei migrar para uma melhor. Comprei a bike do meu amigo Mario Pereira, meu colega de trabalho na Epagri. Uma Soul bem configurada e que me levou a Nova Trento com 200 Km em dois dias.

Nossa. Foi o máximo fazer isso em dois dias. Mas, depois passou a ser pouco.

E para fazer mais, precisava de uma mais também. Comprei outra Soul com configuração melhor, 30 marchas, mas por falta de experiência, acho que paguei caro e renegociei com o dono da loja (sem citar o estabelecimento). Aceitou na boa, como não sei.

Eu estava determinado agora a ser um ciclista de verdade com uma bike de verdade.

Com a Soul, ganhei medalhas de participação e meu primeiro troféu (e único até agora em ciclismo) como 3º lugar – categoria 50/54 anos, 54 Km, São José/São Pedro de Alcântara.

Mas esta bike tinha algo de errado. Não nela em si  mas no tamanho do quadro que não combinava comigo. Descobri mais tarde, o valor de um bike fit ou pelo menos uma orientação de alguém mais experiente. Parti para a aquisição de outra, sem me desfazer dela. O que eu queria era ter certeza de que estava com a bike errada para o meu tamanho.

Comprei a Specialized Rockhopper Comp. A Rockhopper é uma bicicleta “hardtail” para o cross country. Desenvolvida para andar bem tanto no estradão quanto nas trilhas.

Parti com ela numa cicloviagem (minha paixão) a Camboriú, no chamado Velotour, pela Costa Verde e Mar. Um pedal cicloturístico, em minha estreia, desafiador, com uma bike recém adquirida, mas que me deixava confiante no pouco que a pedalei, não tenho como explicar. E nos 460 Km que fiz naqueles suados sete dias, acreditem, nem mesmo um pneu furou. Nem mesmo precisei recalibrar nenhum deles. Nem mesmo os cabos cederam, como é comum em bikes novas.

Tal foi o conforto, com alforjes e outros apetrechos de carga que ela levava, que decidi que a Specialized seria a minha marca preferida. Venci todos os obstáculos, com sol, chuva, vento, vendaval, muitas subidas e descidas perigosas, asfalto e estradas de chão ornadas por belas praias e plantações de arroz, banana e outras culturas.

Nunca imaginei pedalar tanto em tão pouco tempo seguido.

O prêmio? O melhor de todos. Amigos, muitos de todo Brasil e um diploma de conclusão do circuito.

Gostei tanto desta bike que acabei por programar outras viagens para 2013. Foi aí que me deu na veneta que eu tinha que trocá-la por uma aro 29’, pois havia experimentado uma 26’, mas a 29’ elevou minha autoestima, tanto figurativa como literalmente. Senti agora o gostinho de pedalar, noutro estilo, se é que assim posso dizer.

Gente, não imaginam a diferença que isso fez.

Fui a luta e era preciso renegociar a Specialized Rock Hopper Comp 26’pela SPECIALIZED ROCKHOPPER PRO 29'.

Uau”, disse eu quando a vi e fiz um “test bike”. Eu costumo dizer que uma bike ideal pra você, é identificada, numa primeira e única pedalada. Senão, esquece. Parta pra outra até acertar. E eu acertei.

Subidas como a do Morro da Russia e o mais terrível pra mim, a de Antônio Carlos para São Pedro de Alcântara, ficaram obsoletas.

Claro que o preparo e a perda de 11 Kg, perfazendo 35 Km diários, trabalho/residência, mais uma média de 80 Km nos fins de semana, facilitaram o intento, mas 50% foi o fato de estar pedalando a bike correta.

Quanto a Soul, eu vou negociar e comprar outra Specialized, só pra garantir que não fico na mão num lindo dia ensolarado, pedindo pra ser “pedalado de pé”...ou seria, aplaudido de pé?

E o que penso hoje, sobre isso tudo e o ciclismo?

É incrível como nossa vida pode estar interligada e dependente do que fazemos. Nossos atos moldam e nos salvam de problemas, até aqueles que põem nossas vidas em risco. Dizer que os pedais de minha infância me salvaram, pode soar meio exagerado, mas acredito piamente que colaboraram em grande parte pra que eu esteja hoje escrevendo este depoimento. Fico grato a múltiplas pessoas de caráter como os médicos que me trataram (antigo INPS), por eu nunca ter desistido e principalmente por ter minha primeira bike aos 12 anos. Três fatores supostamente elementares, mas que fizeram, em conjunto, toda diferença pra salvar minha vida.

Depois que comecei a vida de ciclista, passei a olhar a cidade com outros olhos, num outro ritmo. Muito mais humano.

Percebi, por exemplo, que eu não preciso ter carro para sobreviver (já tive 4), e isso também é incrível! Quando repito esta frase aos meus amigos eles me olham como se eu fosse um ET: "Como assim viver sem carro?" Percebi mais com o tempo, que este dilema de ter ou não ter carro é, de fato, pouco importante, pois é claro que o carro tem sua utilidade e sua importância, mas o problema é a forma como o utilizamos, o que fizemos dele.

Nosso povo é escravo do carro, dizemos que é "uma segunda família", sem perceber o absurdo que esta frase representa.

Quando comecei a viver a vida de bicicleta vi como é bom ser livre, em relação a paradigmas criados, que não tem o menor sentido. "Brasileiro adora carro", é propaganda no posto de combustível .

Hoje nosso governo incentiva o uso quase criminoso de carros, reduzindo IPI e aumentando o imposto sobre importação de peças de bicicletas. Não sei se estamos apenas atrasados em relação ao mundo, mas me parece que estamos indo pelo lado inverso. Nosso governo quer nos fazer acreditar que país rico é aquele, em que todo mundo anda de carro. Todos os dias. Para todos os lugares.

Um colega há alguns dias fez o seguinte terrível trocadilho: "acabo de receber meu vale transpobre". Este é um pensamento tipicamente de cidadão antiquado do terceiro mundo, pois a história do mundo nos mostra que país rico é aquele em que o rico anda de transporte público...

Fico grato, muito grato ao amigos, sejam colegas de trabalho, sejam de infância, sejam donos de lojas e oficinas de bicicletas que me incentivaram e orientaram pra que eu pudesse levantar minha cabeça novamente e sentir orgulho de fazer parte desta massa sobre um selim. De estar vivo novamente, de ser alguém que possa repassar algo de útil e saudável as pessoas, agora ou no futuro, como meu neto, que já presenteei com uma mini-bike neste Natal.

Agradecimentos de Aldo Cesar Machado Cruz
Catarinense, Jaguaruna, nascido em 13/12/1959

4 comentários

  1. Prezado peregrino Aldo,

    Fico feliz em saber que continuas sendo o mesmo ser humano extraordinário, sempre em busca de algo para ser feliz.
    Agora, preparadíssimo, com tua bicicleta, já podes percorrer o Caminho de Santiago. Acabas de descobrir que o caminho não tem hora nem lugar. Está debaixo de teus próprios pés.

    Buen Camino!

    Abraços de teu irmão peregrino

    Sérgio Garcia

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